tanta coisa mudou...

A vida como marido e pai é além do que dizem... Esse amor singular não pode ser expresso em palavras. Quando ouço o choro dela ao me ver fechando a porta para ir trabalhar, por vezes choro também - não quero ir, deixa eu ficar mais um pouco... Mas aí a mamãe te leva pra janela e você sorri, sorri demais e eu agora estou seguro para ir trabalhar. Estamos nos tornando cada vez mais conectados. Quando a vejo caminhar sem apoio (façanha conquistada antes dos 10 meses) em minha ou qualquer outra direção meu coração dispara - calma tempo! Esse foi o pedido da mamãe: que a Maria andasse antes do papai competir nos JASC. Papai queria você no pódio junto comigo. Mas para isso seria preciso enfrentar muitos desafios!
A nova posição de gerente no restaurante exigiria muito mais disposição e trabalho dos neurônios. Um pouco mais de tempo longe de casa, que tortura!
A bicicleta ganhada de segunda mão ajuda muito no deslocamento diário, porém, seu banco baixo ia pouco a pouco prejudicando meu joelho esquerdo. Não havia outro modo. Para ir a pé (o que poupava parcialmente apenas o joelho) necessitaria de mais minutos preciosos longe de você.... Não quero. O treino era árduo e por vezes, impossível de se realizar. E olha que eu sou de aguentar um incomodozinho. Com os JASC chegando, não poderia me machucar, fizemos uma tratamento mais puxado na reta final, treinos com os outros barreiristas; tudo pronto.
Este JASC tinha um sabor especial pra mim. Em 2007, meu segundo JASC e com 19 anos eu fui campeão dos 110m com barreiras! Essa prova que eu treinei desde 2003 e que eu tanto amava! O 47o JASC foi em Itajaí e a final foi muito acirrada! É possível ver na foto da última barreira que pelo menos 2 adversários passavam por ela junto de mim. Mas a vitória veio, com 15.08s, meu PB eletrônico por mais de um ano... Havia um repórter Joinvillense que encontrou minha mãe na arquibancada e ela contou sobre mim - que deveria correr a final dos 110cb em breve e então ele se posicionou para tirar algumas fotos e saí no jornal! Que demais!!
Então esse ano de 2017 tinha esse barato de 10 anos da minha primeira vitória. E eu nunca conseguia vencer a mesma prova dois anos seguidos. Pois vejam:
2006: 4o no 110cb - 4o no decatlo
2007: 1o no 110cb - 4o no decatlo
2008: JASC cancelado por conta das chuvas
2009: 1o no 110cb - 2o no decatlo (esse ano merece um post)
2010: 1o no salto altura (srsly tho) -1o no decatlo
2011 - 7o no arremesso de peso (quebrei meu pé no salto em altura, era o que dava kkk)
2012 - 2o no 110cm (eu estava de volta) - AB no decatlo
2013 - 1o no 110cm - 1o no salto em altura
2014 - 3o no 110cb - 4o no salto em altura
2015 - 1o no barreira - 1o no salto em altura
2016 - JASC cancelado por conta das chuvas
Portanto esse seria o ano em que minha filha andaria do meu lado para o pódio, eu seria penta campeão no 110cb e comemoraria 1 década da minha primeira vitória no JASC!
Óbvio que falar é fácil, agora e aguentar a pressão? Todo mundo estava correndo MUiTO nesse ano, os 4 primeiros do ranking fazendo 14.6 de uma forma sublime. Eu sabia que o vencedor seria aquele que errasse menos. Todos queriam vencer. E 1 ficaria de fora do pódio. Eu só não podia ficar de fora. Pra piorar a situação, não saltei bem no altura. Na verdade nunca saltei tão mal. Lidar com isao foi fogo. Tive que trabalhar muito o psicológico naquela hora. Vergonha da técnica, pelos saltos lixosos, decepção pra esposa e filha, que sabiam que eu podia mais, até minha mãe estava lá, ela já viu bastante coisa então acho que pra ela foi tranquilo. Pensei em ir embora do setor, mas não seria bacana com meus adversários, que sempre ficam para prestigiar de perto o desfecho. Ali mesmo, assistindo o Dionei vencer lindamente (parabéns) o grande mestre e favorito Jorge, e o dinossauro Sidnei de Timbó saltar 1,75 de calças e tênis com 3 passadas kkkk - ali mesmo, me perdoei. E sabia que com o barreira seria diferente. Pensei o tempo todo em ser campeão, mas não sentiria vergonha de subir com minha filha à esquerda ou direira de quem que estivesse no lugar mais alto. Mas eu via e projetava toda a minha corrida, "visualize the victory".
E sábado de manhã eu estava pronto. Minha semi final estava marcada para as 9:20. Éramos apenas 9 inscritos para uma pista de 6 raias. Mas a chuva veio.. Eu me sentia ainda melhor, poderoso! Afinal de contas todo joinvillense é meio sapo, meio anfíbio...
A chuva foi pra mim a cereja do bolo! Treino em pista de carvão com muitos dias de chuva no ano. Não me deixo impressionar por ela e sei como dominá-la. Supunha então que meus adversários que treinavam em pista sintética já não fossem mais ficar tão animados. Só faltava mais uma prova antes de colocarem as barreiras para nós. No entanto, choveu demais. Minha vantagem havia ido água baixo... Suspenderam a competição até de tarde. Chuveu muito. Às 15:30, após nova reunião, decidiram começar aos poucos as provas na sequencia...Algumas raias estavam muito danificadas, muitas provas mudaram pra final por tempo, INCLUSIVE A MINHA! Ponto negativo pra mim. Gosto muito de correr duas vezes. Sempre faço um tiro melhor na segunda vez, como de costume o 110 do decaltlo precedia a semi final do 110 individual. Precisaria deixar essa crença de lado e dar meu tudo no tiro único. 19:40 podiamos confirmar a prova. Peguei na série do meu "rival" Leuze de Chapecó e o "calouro das barreiras altas" Jucian. Estava tudo perfeito. Fiz o aquecimento como manda o figurino, mas nossa prova não tinha hora certa pra começar, apenas uma sequencia de provas. Aquecemos muito cedo e no frio foi difícil se manter aquecido. O joelho dava mostras de que não estava 100% mas isso eu dominava facilmente. Ele apenas doia em movimentos em que não havia firmeza, deterninação. Portanto eu tinha certeza de que aguentaria a prova inteira sem falhar. Então mais uma distração, uma reclamação de distribuição de séries foi feita e fui jogado para a série mais fraca. E agora? Se falhar, já tenho a desculpa, mas não quero. quero correr e quero ganhar. Fiquei un tanto chateado mas logo já consegui me motivar para correr 'sozinho'. Afinal de contas, eu precisava fazer a MiNHA corrida, sem ficar de olho nos outros nem me deixar impressionar. Ainda faltavam 4 ou 5 séries de 200m pra arrumarem aa barreiras, nova mudança: com apenas 8 atletas confirmados, a final por tempo será corrida em 2 séries de 4 atletas! Eu estava de volta com os mitos! Fechando a nossa série estava o novíssimo porém extremamente talentoso Tiago de São José. Corri na raia 1, antes alagada, agora bem pisoteada e até que firminha. Arrumei meu bloco de um jeito diferente mas que se provou sensacional. 2o pino no pé da frente e 3o no pé de trás. Eu me sentia seguro, me sentia preparado!
ÀS SUAS MARCAS! Ordenou o árbitro e eu, fazendo meu ritual de entrada no bloco, quase perdi minha deixa, com o sinal de pronto sendo dado antes de eu estar completamente imóvel, mas no entanto, os apitos soam. Largada falsa. Alguém havia queimado e estava fora da final. O pódio é que ficou pra correr, mas qual posição cabia a mim? Mais uma saída, dessa vez me aprontei mais rápido, estava pronto e atento. A toalha amiga estava comigo. Não que eu tenha derramado muito suor antes da prova, era Lages. 09:32 da noite. Mas ritual é ritual. Quem falhou dessa vez foi a arma, novamente uma saída falsa. A tensão só fazia aumentar, mas na terceira vez, estava valendo! De acordo com meu compadre, eu nunca fiz uma saída tão boa! Cheguei firme e veloz na primeira barreira, na quarta meus olhos já estavam cheios de lágrimas pelo vento gelado. Dei um piascadão e minha visão voltou ao normal. Segui firme ultrapassando o primeiro colocado lá pela sexta barreira e vencendo com o tempo de 14.96
Na raia 1, no carvâo de Lages, pós chuva. Gold Card?
Sensação boa demaais!
Mesmo com Maria dormindo, subiu comigo no pódio para recebermos a medalha de 1o lugar da amada mamãe <333 tudo perfeito! Queria que esse momento durasse pra sempre. Ali eu estava feliz, contente, relizado, aliviado e principalmente... com uma super dor no joelho kkkkk

Um comentário:

Inês Fernandes Felippe disse...

Que linda história! Que orgulho ser esse pai dedicado, atleta, esposo, responsável e levar seu belo exemplo na arte da escrita! Parabéns, Guilherme!!��������

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