Vitamina de Maçã

Oi.
Você não me dá mais oi.
Você não se importa mais. Tudo se tornou uma grande indiferença para você.
Aguardo sempre pelos nossos poucos encontros para tentar perceber o quê mudou em você, mas não sou feliz, pois eu não te conheço realmente. Apenas te conheço como minha esposa. O quê você era antes de me conhecer, isso eu desconheço. Talvez esse tenha sido o meu/nosso maior erro.
Você era jovem, alegre e adorava vivenciar novas experiências. Possuia suas amigas inseparáveis e suas paqueras platônicas, como qualquer outra garota comum. Mas é só isso que eu sei de você. Que eu sabia de você. Nunca tinha estudado com você ou passado mais de 3h ao seu lado.
Eu realmente não te conhecia.
Eu não te conhecia.
Mas eu também era jovem. Só procurava um pouco mais de diversão. Às vezes deixamos nossa vida tão chata. Precisamos salpica-la um pouco, às vezes. E eu acho que deveria ser algo passageiro, amor.
Amor... lembra quando eu te chamava assim? Você sempre dizia que era muito clichê, e que eu não me sentia mesmo daquele jeito, mas seu sorriso mudava de um jeito peculiarmente maravilhoso.
Eu era seu docinho... mesmo preferindo chocolate amargo, você insistia em me chamar de "meu docinho".
Não sei por quê estou lhe escrevendo isso. Não é como se você já não soubesse disso tudo. Você também nunca gostou muito de surpresas. Elas a assustavam. Acho que trata-se de um desabafo tardio. Já não sei mais se reside na mesma casa, mesmo tendo seguido você diversas vezes até o metrô. Espero que sim. Seria realmente uma pena se essa carta fosse lida apenas por carteiros ou os novos moradores de sua antiga casa.
Andei contando sabe... e dessas 139 noites mal dormidas, você me apareceu um número de 46 vezes; que vira 33% do total. Sei que você não liga para matemática, mas é ela que tem me mantido sóbrio durante essa semanas todas.
Você gostava de borboletas, sempre amou elas. Tinha várias fotos delas no computador. De todos os tamanhos e cores. Suas favoritas eram as roxas, isso ainda procede? Não tem muita importância, não é verdade ? Não assim... quando descrevemos em público... parece que perdemos o encanto pra tentar se proteger de comentários fúteis, olhares agressivos e mentes submersas nesse mundo de ilusão... então... é muito mais importante quando ponderamos sozinhos.
Criamos nossa concepção de importância... usar o tempo que nos une observando aquelas coisas que nos mantém: as mais simples possíveis. Como uma gota de orvalho em uma manhã de primavera levemente fria. Algo tão valioso... quase ninguém se dá conta. Ou... usar um travesseiro cuidadosamente... botando a mão por baixo dele e a cabeça por cima... aquele geladinho gostoso que nos põe a dormir.
E até mesmo pra acordar, aquela irritante abertura de janela que só as mães fazem; o sol brilha no rosto, franzimos nossas sobrancelhas, nos encolhemos e nos recusamos a falar algo, tamanha preguiça de abrir a boca. Mas não é encantador? Pra nós... ainda bem!
Pois eles se importam com gigantes. Se importam em saber o que os outros pensam sobre o que você pensa. Mas não se importam com você. Nesse mundo de poucos amigos e coberto de ilusão, pelo menos, amor, nos sobressaímos. Nós conseguimos manter o nosso caminho, conseguimos fazer a nossa mágica. E nada nos fortalece mais do que nossa percepção tão simples, nossa audaciosa quebra de tabús.
Isso faz de nós eternos e vitoriosos amantes.

2 comentários:

Diogo Branco disse...

Tudo muito cativante e bem montado...
Just for birds. :D

Bzo.

jés. disse...

um tanto quanto comovente, se fosse verdade;

Related Posts with Thumbnails