Eu te ouço. Fico durante horas em silêncio apenas ouvindo o que tens a dizer. Talvez eu apenas escute e não te ouça. Assim como ver e não enxergar. É difícil prestar atenção nas palavras quando meus olhos estão abertos, pois aí eu te enxergo. Observo com calma sua face e toda a beleza das delicadas curvas. O delinear das suas maçãs do rosto me apaixonam a cada segundo. Não consigo me concentrar, desvio a atenção o tempo todo notando sutilizas suas que apenas me fazem te amar mais – caso seja possível.
-E não fica me olhando com essa cara de peixe morto, seu verme! Você tem idéia da vergonha que me fez passar? Na frente dos meus amigos, ainda por cima! Ai, como eu quero te matar!
Nem vi sua mão chegando. Sei que do chão você é ainda mais bela. Tive a impressão de estar no pé do Olímpio e admirar, submissamente a Deusa Hera. Meu rosto começa a inchar, acho que perto de você há toda uma atmosfera diferente. E como Golias, você passa por cima de mim. Sente com seus pés como é frágil o meu corpo. Sua expressão torna-se mais rígida, mas não deixa nem um pouco de ser apaixonante. Às vezes bloqueava meu olhar para outra direção – ainda com os pés, mas com um simples esforço, eu tornava a virar-me em sua direção.
-Tu some da minha vida e nunca mais entra em contato comigo, seu porco chauvinista, ouviu bem?! Some da minha vida!
Aí um som me chamou a atenção, mas não foi seu canto, não. Algo como um galho de árvore partindo. Meu pescoço virou de um modo estranho para a esquerda. Pude perceber que o chão estava muito mais vermelho que o normal. Também senti minha bochecha úmida, mas não conseguia mexer nada no meu corpo com exceção aos olhos. Eu vi a porta e você saindo por ela. Parecia estar chorando, o que terá acontecido? Estranhamente as luzes começam diminuir, bem devagarzinho. O vermelho passou a ser preto e eu não vi mais nada.
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