Por que sou ateu

“Fale de uma ‘criança de pais católicos’, se quiser; lembre-se que as crianças são novas demais para ter uma posição nesse tipo de assunto, assim como são novas demais para ter uma posição sobre economia ou política. (...) Aquela não é uma criança mulçumana, mas uma criança de pais mulçumanos. Aquela crianla é nova demais para saber se é mulçumana ou não. Não existe criança mulçumana. Não existe criança cristã”.

Richard Dawkins

Muito provavelmente, meus pais mesmo sem conhecer Dawkins, pensavam como ele; decidiram me deixar livre para escolher uma religião ou filosofia de vida. O que faz muito sentido! Como vou aprovar uma coisa que desconheço e até mesmo sou incapaz de compreender devido a minha minúscula experiência de vida? Como julgar e o opinar sem antes conhecer? Não posso dizer que uma coisa é melhor que outra sem nem sequer CONHECER essa outra.

Recordo-me que lá por volta de 1992 eu tinha “aulinhas de religião” em um colégio luterano chamado Bom Jesus. Não me lembro de ter absorvido muita coisa, mas isso logicamente porque minha mente se ocupava com coisas mais interessantes para a época, como dinossauros e motocicletas. Mas uma coisa que nunca me saiu da cabeça foi a musiqunha “já rolou, a pedra já rolou”...

Durante algum tempo eu fiz aulas de street dance e volta e meia participávamos de algumas apresentações em festivais. Quando conversava com alguns de meus colegas da vizinhança, filhos de pais cristãos e eles me diziam coisas como “Hoje não posso brincar, preciso ir pra catequese”. Eu, inocentemente respondia “Puxa, que legal! Vocês vão dançar no Festival de Dança mês que vem, também?” Pra mim, catequese era apenas outro tipo de dança. Eu era assim, pouco instruído e muito feliz!

Minha mãe parecia não se importar nem um pouco com as minhas crenças, quem dirá meu pai... pois que foi somente na 5ª série, no ano 2000, que ela foi chamada à coordenadoria da Escola Municipal Profª Anna Maria Harger para conversar sobre a educação que eu estava recebendo em casa, já que eu havia “desafiado” a professora ao contrariá-la, dizendo que o deus em que ela acreditava, não existia. Óbvio que minha mãe mandou a orientadora pastar e tudo continuou normalmente, mas foi naquela situação que minha mãe descobrira minha opinião.

Com o passar dos anos, as crianças foram ficando mais espertas, começaram a fazer perguntas a respeito do meu não-credo:

Você não tem medo de ir para o inferno, não?

Por saber que deus não existe, todas as suas histórias vertentes também deixavam de fazer parte das coisas em que acredito. Não há porque temer o que não exista, contanto que você SAIBA que não exista. Nunca tive medo de fábula alguma, muito pelo contrário, admiro várias lendas urbanas e religiões politeístas por sua tremenda criatividade.

Como você vive sem amar Jesus, sendo que ele morreu por você?

Primeiramente, como não costumo apreciar muito gentilezas feitas de surpresa, não ficaria agradecido com a idéia de que alguém “se sacrificou por mim” 2000 anos atrás. Segundo porque eu não sou fruto dessa família que Jesus tanto amou e lutou por. Minha solidariedade provém de outras origens que não precisam ser tratadas agora. Se ele se sacrificou por alguém, é porque não valia mais que os outros ou porque já sabia que iam dar um revive nele.

Você acha que não precisa de deus? Coitado, tenho pena de você

Vivo feliz sem deus a minha vida inteira, todas as desavenças que eventualmente me causaram tristeza ou infelicidade foram causadas por pessoas (pessoas que, fazendo ou não o uso da razão, eram cegas demais para enxergar a bobagem que estavam fazendo), nunca um evento da natureza. Adoro a chuva e o sol, a noite e o dia. Sou feliz por viver de bem comigo, por realmente poder usufruir de uma liberdade maior.

Sim, e você acha que vai pra onde, depois que morrer?

Pro mesmo lugar de onde vim. Minha mente parará de funcionar e não poderei usar mais nenhum dos sentidos. Meu corpo servirá de alimento para pequenos seres e, se possível, alguns de meus órgãos habitarão outros corpos. Tento imaginar o desespero de uma vida ETERNA. Pra sempre é tempo demais...

Você acha que tem algum propósito na vida?

Durante um tempo eu acreditava existir para fazer as pessoas sorrirem e isso foi bom pra mim, obviamente, de uma forma não altruísta. Mas depois acabei entrando em depressão e não conseguia nem mais ME fazer sorrir. Finalmente, tempos depois, encontrei algo que me encantava. Ateísmo e livre-pensamento. Comecei a ler muito e também a tentar abrir a mente das pessoas. Não gosto de injustiça, de um modo geral, sempre fico do lado de quem está sendo atacado. Defendo quem quer que seja. Eventualmente acabei voltando a sorrir e agora tendo surpreender as pessoas, de uma forma não necessariamente boa, mas que as faça pensar.

No que você acredita, então?

Eu acredito que todo universo tende ao equilíbrio, adaptando-se conforme as coisas vão acontecendo. Tudo sempre se conserta, contanto que o tempo continue correndo. A evolução ainda não acabou.

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