Pretérito mais-que-perfeito

Hoje sonhei com você. Com aqueles nossos trejeitos e afagos, tudo era romance. Era notoriamente um sonho pois a realidade temporal passava longe. Nos amávamos. E reproduzíamos isso deitados na cama. Do jeitinho que você gosta eu entrelaçava meus dedos em seu cabelo - sem mexer muito, pra não embaralhar, com firmeza sentia dentro de você e gentilmente meus lábios a tocavam levando à loucura. Eu sei, é assim que você gosta, mas lá vou eu falando sobre sexo novamente. Sempre foi só isso, não é mesmo? De nada adiantou Preparar refeições surpresa. Isso não era um mimo. Era o mí-nimo. Mesmo se exagerasse no sal, se estivesse apaixonado, era um obrigado seguido de elogio, que ao fim não bastavam para te conquistar. De nada adiantou cuidar bem da casa e fazer de seu cantinho um lugar alegre e aconchegante. Era só quando eu estava por perto, não é mesmo? Longe eu sou um traste. Longe, depois de ser mandado embora, depois de mais uma vez ser provado que "você sabe ser pior", carregando nas costas a certeza de ser inferior, de estar errado, eu precisava me manter firme. Precisava aguentar. Por um futuro. Pelo nosso futuro juntos, eu precisava ter aguentado. Precisava ter deixado o orgulho ferido de lado, ter entendido as limitações de cada um e agido de acordo, respeitado o tempo. Mas a gente nem ao menos se respeita, não é? A gente nem se gosta. Ficamos por comodismo, por se sentir acolhidos até acostumar e depois achar que não há mais nada. Pelo contrário, foi a busca de todo o resto que você foi. Que eu me fui, perdido. Não dá pra te esquecer, e isso também eu nem quero. Quero só me lembrar das coisas boas, do laço que nos une, mas então isso já volta pro sexo. Mas eu sou humano, pombas! Como não pensar? Como não te desejar? Como não babar pelo teu corpo e seus atributos? De nada adianta querer esse tipo único de relação. Sua intensidade permite mais; exige mais. Eu também não quero só isso. Não quero nada que não seja sério. Te quero por inteira, e não só uma porção, a parte que me permite. Eu não quero ser só seu amigo. Eu não sei fazer isso, nunca fomos. Pulamos etapas e o fundamento está fraco. Não sei se há retorno quando tudo o que fizemos é machucar um ao outro, mostrar que não está abalado (muito embora nossas ações mostrem uma tentiva desesperada de chamar atenção - precisamos um do outro) é só através de você que terei salvação. Só você pode me ajudar a sair desse abismo que continuo cavando em direção a nada. Novamente divago. Não é por você, é por mim mesmo que devo fazer essas coisas. Nossa página já virou. Só que eu não quero desapegar, não quero sair dessa. Você sabe como eu sou. Gosto de me sentir pra baixo, que é exatamente o que você faz, me põe pra baixo. Não posso, não quero, não devo. Me faz de cachorrinho, deixa eu ser teu. Brinca com meus sentimentos, mente pra mim.
- you're gone and I gotta stay high all the time to keep you off my mind -

Um comentário:

Julia, ué disse...

Que bom saber que esse blog ainda existe :)

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